A função da música é dar às pessoas o caminho da beleza e de Deus. É
caminhar na beleza de um sonho e na imensidão do amor. O talento é dado para
servir e repartir, o contrário não serve. Não há cache que pague isso.Valdemar Bastos, RDP-África, 24/VI/2016
Na centelha de hoje vou falar-lhes do
conceituado músico João António Estima, ou
simplesmente, João Estima. Não
apresentarei o currículo do músico, como alguns desejariam, mas falarei da
terapia das suas canções, numa altura em que a sociedade moçambicana padece de
podridão moral. A falta de emprego e de oportunidade empurram algumas pessoas,
sem arcabouço musical, para o mundo da música. Com a ajuda de potenciais
patrocinadores, em condições de concorrência oligopolista, esses vadios azinha
são colocadas no galarim da pirâmide da fama. As canções, quase todas
desprovidas de apreciáveis conteúdos musicais, são aplaudidas pelas turbas
delirantes. Dizer algumas asneiras é uma forma de manifestar a ignorância,
perdoa-se.
O que não se pode tolerar nem perdoar é a
proliferação de pacóvios que utilizam a música para promover a mediocridade.
Estão a comprometer a qualidade de vida das gerações futuras, porque a música é
também uma forma de ensinar. Tudo aquilo que vem rápido vai fácil. Este é o
veredicto de muitos músicos que atingiram o poleiro da fama sem nunca terem
arregaçado as mangas, tal como os cágados que são colocados em árvores.
Dizia Mário da
Graça Machungo, antigo presidente do Millennium BIM, que cágados não sabem em
árvores. Se virem algum numa árvore é porque alguém o colocou lá. Prepare-se
uma rede elástica, para quando cair, não possa aleijar-se.
Temos disso na música, por culpa dos
patrocinadores e do estrabismo étnico-racial. Tal como diria o meu amigo Nkulu,
em desertos há sempre alguma vegetação, embora escassa, para fazer a diferença.
João Estima é um oásis no seio do deserto. Alguns sofalenses dizem com toda a
legitimidade que o povo estima o Estima, tanto quanto as músicas. Para quem a
boa saúde não lhe assiste, as músicas de Estima são de facto uma terapia. Penso
que os médicos, em lugar de recomendarem drogas que só reduzem a vitalidade do
fígado, deviam prescrever as músicas de Estima, para o saneamento da alma. É
difícil ouvir uma composição musical de João Estima e a pessoa ficar indiferente.
As músicas estão carregadas de pedagogia e servem para todas as idades e
géneros. Há algo de nostálgico. Não provoca masoquismo, pelo contrário, são
temperantes e reconfortantes.
Em “Zaperekeke” (o mesmo que dizer
“entregue-se”), João Estima faz um forte apelo à Renamo no sentido de se juntar
aos esforços do governo e de outros sectores da sociedade para o fim do
conflito militar. Escrita no auge da guerra dos 16 anos, o cantor em
referência, aconselha aos guerrilheiros da Renamo o seguinte:“Entregai-vos. Mato é para cobras.
Venham participar em actividades de desenvolvimento do país.”
Esta música conquistou a intemporalidade e ainda hoje continua a
fazer todo sentido esse apelo. João Estima é também um profeta. É comum alguns
pseudo-músicos quando atingem a “loucura” da fama esquecer suas origens.
Diferentemente desses pseudo-músicos, João Estima imortaliza a sua terra natal
(Marromeu). Através da música “Marromeu mwananga…ni mwathu…kundikomera”, o seu primeiro e único trabalho
discográfico gravado em 2010, Estima exalta o distrito da sua natalidade e
afirma que “… por mais que vá disfrutar do bem e do melhor na diáspora,
Marromeu lhe agrada. Aqui nasci, aqui estudei, aqui trabalhei. Marromeu
agrada-me, a par da sua gente, também pelo seu desenvolvimento.”
Em outra composição musical intitulada
Rosita, o cantor homenageia à sua esposa Rosa Rosário (Rosita). Estima declara
a sua amada que “Tu és minha esposa. A primeira e única que Deus me deu. A mãe
dos nossos filhos.” É sem dúvida uma homenagem que faz, não apenas a Rosita,
como também a todas mulheres do país e do mundo em geral (amém). João Estima
também enaltece os feitos do antigo presidente da República Armando Guebuza. Em
“Tinapereka takhuta kuna pai Guebuza”, o cantor agradece pela construção da linha
ferroviária de Sena, que passa por Marromeu.
Para Estima (julgo que este é o sentimento de
todos os moçambicanos), a construçã0o desta linha contribuiu para reduziu-se os
preços astronómicos das passagens aéreas em curso no país. A este propósito o
autor goza “Subo o comboio como se estivesse a subir avião. Com a linha de
Sena, todos os caminhos hoje vão dar à Marromeu.” Não reconhecer este feito,
independentemente do que hoje se diz sobre Armando Guebuza, é uma falsa
cegueira de quem não quer ver.
O talento de João Estima é ímpar. Pelos
serviços que têm prestado à nação moçambicana, através da promoção dos valores
culturais, João Estima merecia uma homenagem pública por parte do governo
provincial de Sofala. Sei que a Excelentíssima Senhora Governadora de Sofala,
Maria Helena Taibo, tem feito muito pelos músicos sofalense. Para ela, Senhora
Governadora, vai também uma palavra de homenagem. ZICOMO e um abraço nhúngue ao
meu amigo de infância B. Chuva.
WAMPHULA FAX – 04.07.2016