sexta-feira, 15 de julho de 2016

Daniel Baulene Chatama


Na resistência contra a ditadura do Mondlane, Chatama actuou como guarda costa e segurança na residência do Padre Mateus Pinho Gwenjere no subúrbio de Chang'ombe em Dar Es Salaam. Ele estava estreitamente aliado ao malogrado padre Mateus Pinho Gwenjere que veio a ser raptado de Nairobi pelo agentes tanzanianos em colisão com agentes do SNASP de Moçambique e depois foi torturado e morto pela Frelimo em Cabo Delgado.
Natural de Chupanga no Baixo Vale do Zambeze, Chatama foi treinado juntamente com Joaquim Chissano em serviços de segurança e espionagem pela KGB na União Soviética.  Durante a sua estadia na Rússia soviética, o Chatama aprendeu a língua russa que sabia escrever e falar. Na Tanzânia onde Chatama trabalhou no serviço de transmissão na casa do Eduardo Mondlane, ele chegou de observar que certas das mensagens que saiam da casa do Mondlane eram transmitidas para a inteligência militar portuguesa.  Chatama também não duvidava que Mondlane era um agente da CIA americana.
Liberto duma prisão tanzaniana onde tinha sido posto pelos tanzanianos por causa da sua resistência contra a ditadura e a tirania na Frelimo, Baulene Chatama rumou para Nairobi, Quénia, onde resumiu os seus estudos e viveu antes de ir a Holanda donde veio mais tarde a rumar para os Estudos Unidos da América.
Um pintor de edifícios de grande talento, Baulene teve a infelicidade de cair no consumo de drogas que vieram a minar a sua saúde, estando durante um dado tempo o seu corpo completamente intoxicado  e passou muito tempo a ser desintoxicado num centro de saúde especializado para tais tratamentos na América. 
Alguns anos depois de sobreviver a sua trágica experiencia com drogas foi diagnosticado com o cancro que acaba de lhe tirar a vida.

Daniel Baulene Chatama, um imbondeiro da resistência contra a tirania mondlanista na Frelimo em Dar Es Salaam em 1968, faleceu em Stata Rosa, Califórnia, depois duma dura batalha contra o cancro.

Francisco Moises

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Comboio Beira-Marromeu é o meio mais seguro para viagem

Viajar de Marromeu para Beira via terreste virou um grande pesadelo, pior quando apanha chapa ou de viatura pessoal. Eu pessoalmente saí de Dondo ate' Marromeu usando via Inhaminga (300km) cruzei com dois carros somente, um auténtico silêncio na estrada.


No mapa fiz  uma ilustração de algumas rotas onde alguns colegas e amigos sofreram assaltos
Verde-Rota que não ouvi reclamações de assaltos
Vermelho-rotas que até meus colegas e amigos foram assaltados
 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

JOÃO ESTIMA: UMA RELÍQUIA MUSICAL

A função da música é dar às pessoas o caminho da beleza e de Deus. É caminhar na beleza de um sonho e na imensidão do amor. O talento é dado para servir e repartir, o contrário não serve. Não há cache que pague isso.Valdemar Bastos, RDP-África, 24/VI/2016

Na centelha de hoje vou falar-lhes do conceituado músico João António Estima, ou simplesmente, João Estima. Não apresentarei o currículo do músico, como alguns desejariam, mas falarei da terapia das suas canções, numa altura em que a sociedade moçambicana padece de podridão moral. A falta de emprego e de oportunidade empurram algumas pessoas, sem arcabouço musical, para o mundo da música. Com a ajuda de potenciais patrocinadores, em condições de concorrência oligopolista, esses vadios azinha são colocadas no galarim da pirâmide da fama. As canções, quase todas desprovidas de apreciáveis conteúdos musicais, são aplaudidas pelas turbas delirantes. Dizer algumas asneiras é uma forma de manifestar a ignorância, perdoa-se.
O que não se pode tolerar nem perdoar é a proliferação de pacóvios que utilizam a música para promover a mediocridade. Estão a comprometer a qualidade de vida das gerações futuras, porque a música é também uma forma de ensinar. Tudo aquilo que vem rápido vai fácil. Este é o veredicto de muitos músicos que atingiram o poleiro da fama sem nunca terem arregaçado as mangas, tal como os cágados que são colocados em árvores.
Dizia Mário da Graça Machungo, antigo presidente do Millennium BIM, que cágados não sabem em árvores. Se virem algum numa árvore é porque alguém o colocou lá. Prepare-se uma rede elástica, para quando cair, não possa aleijar-se.
Temos disso na música, por culpa dos patrocinadores e do estrabismo étnico-racial. Tal como diria o meu amigo Nkulu, em desertos há sempre alguma vegetação, embora escassa, para fazer a diferença. João Estima é um oásis no seio do deserto. Alguns sofalenses dizem com toda a legitimidade que o povo estima o Estima, tanto quanto as músicas. Para quem a boa saúde não lhe assiste, as músicas de Estima são de facto uma terapia. Penso que os médicos, em lugar de recomendarem drogas que só reduzem a vitalidade do fígado, deviam prescrever as músicas de Estima, para o saneamento da alma. É difícil ouvir uma composição musical de João Estima e a pessoa ficar indiferente. As músicas estão carregadas de pedagogia e servem para todas as idades e géneros. Há algo de nostálgico. Não provoca masoquismo, pelo contrário, são temperantes e reconfortantes.
Em “Zaperekeke” (o mesmo que dizer “entregue-se”), João Estima faz um forte apelo à Renamo no sentido de se juntar aos esforços do governo e de outros sectores da sociedade para o fim do conflito militar. Escrita no auge da guerra dos 16 anos, o cantor em referência, aconselha aos guerrilheiros da Renamo o seguinte:“Entregai-vos. Mato é para cobras. Venham participar em actividades de desenvolvimento do país.” Esta música conquistou a intemporalidade e ainda hoje continua a fazer todo sentido esse apelo. João Estima é também um profeta. É comum alguns pseudo-músicos quando atingem a “loucura” da fama esquecer suas origens. Diferentemente desses pseudo-músicos, João Estima imortaliza a sua terra natal (Marromeu). Através da música “Marromeu mwananga…ni mwathu…kundikomera”, o seu primeiro e único trabalho discográfico gravado em 2010, Estima exalta o distrito da sua natalidade e afirma que “… por mais que vá disfrutar do bem e do melhor na diáspora, Marromeu lhe agrada. Aqui nasci, aqui estudei, aqui trabalhei. Marromeu agrada-me, a par da sua gente, também pelo seu desenvolvimento.”
Em outra composição musical intitulada Rosita, o cantor homenageia à sua esposa Rosa Rosário (Rosita). Estima declara a sua amada que “Tu és minha esposa. A primeira e única que Deus me deu. A mãe dos nossos filhos.” É sem dúvida uma homenagem que faz, não apenas a Rosita, como também a todas mulheres do país e do mundo em geral (amém). João Estima também enaltece os feitos do antigo presidente da República Armando Guebuza. Em “Tinapereka takhuta kuna pai Guebuza”, o cantor agradece pela construção da linha ferroviária de Sena, que passa por Marromeu.
Para Estima (julgo que este é o sentimento de todos os moçambicanos), a construçã0o desta linha contribuiu para reduziu-se os preços astronómicos das passagens aéreas em curso no país. A este propósito o autor goza “Subo o comboio como se estivesse a subir avião. Com a linha de Sena, todos os caminhos hoje vão dar à Marromeu.” Não reconhecer este feito, independentemente do que hoje se diz sobre Armando Guebuza, é uma falsa cegueira de quem não quer ver.
O talento de João Estima é ímpar. Pelos serviços que têm prestado à nação moçambicana, através da promoção dos valores culturais, João Estima merecia uma homenagem pública por parte do governo provincial de Sofala. Sei que a Excelentíssima Senhora Governadora de Sofala, Maria Helena Taibo, tem feito muito pelos músicos sofalense. Para ela, Senhora Governadora, vai também uma palavra de homenagem. ZICOMO e um abraço nhúngue ao meu amigo de infância B. Chuva.

WAMPHULA FAX – 04.07.2016