Urbanização como topo da agenda: Marromeu desperta do sono profundo
A EXPLOSÃO demográfica no município da vila de Marromeu, a norte da província de Sofala é preocupante a ponto de não haver mais espaço para novo ordenamento territorial, o que implica a busca de soluções nas áreas de expansão.
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
Outrossim, segundo o edil Palmeirim Rubim, tal situação também aumenta a responsabilidade do governo municipal, pois a existência de novos bairros implica seu acompanhamento com a instalação de infra-estruturas como estradas, água, energia, escolas, hospitais, entre outras iniciativas, parte das quais já estão em curso. A edilidade está igualmente a desenvolver esforço conjuntamente com os munícipes de modo a elevar ainda mais o nível de vida das populações locais, através da execução de várias acções, nomeadamente a reabilitação do sistema de abastecimento de água, construção de sanitários públicos, ponte e a conclusão de obras escolares paralisadas. Eis extractos da entrevista que o edil local nos concedeu há dias, na vila autárquica de Marromeu.
Noticias (N) - Senhor presidente, qual é o actual estado do Município de Marromeu?
Palmeirim Rubim (PR) - O estado do município é bom. Há muita coisa que está a acontecer em prol dos autarcas e estes também estão a colaborar de forma muito positiva porque querem ver as actividades do município a desenvolverem da melhor maneira. Neste momento estamos a reabilitar o sistema de abastecimento de água na componente da sua conduta de modo a termos água canalizada nas residências. O empreiteiro já esteve cá mas voltará em breve de modo a iniciar com o projecto. Também estamos a trabalhar no sentido de construirmos sanitários públicos tendo já começado as obras nos bairros 1º de Maio e 7 de Abril. O município está ainda a construir a ponte sobre o rio Sacasse, que liga os bairros 7 de Abril e Samora Machel, tendo sido erguidos três pilares dos quatro necessários para depois seguir-se a outra fase. Também estamos a fazer acabamentos das obras de uma escola primária no bairro Julius Nyerere, que passou recentemente para o município. Fizemos igualmente três salas na escola 8 de Outubro que já estão a ser utilizadas.
No âmbito do melhoramento de abastecimento de água, montamos sete novas bombas de água e reabilitamos outras 13 o que permitiu melhorar os níveis de abastecimento. Para além disso, já temos cá uma empresa que vai efectuar a prospecção para a abertura de 15 novos furos de água numa parceria com a organização OXFAN, que serão colocados em todos os bairros da vila. Paralelamente e também em parceria, mas desta feita com o PARS, vamos reabilitar quatro bombas, nomeadamente nos bairros Samora Machel, Kenneth Kaunda, 7 de Abril e 1º de Maio. No tocante ao saneamento do meio o Conselho Municipal possui um programa de fabrico de duas mil lajes para igual número de latrinas, que serão distribuídas pelas famílias cujo projecto já foi lançado recentemente, no bairro 7 de Abril.
ÁGUA: CRISE JÁ ERA
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
N- O que nos reserva o futuro em termos de vias de acesso?
PR- Nesta componente já temos várias acções em curso com a utilização da nossa niveladora rebocável. Estamos a abrir as vias nos bairros de modo a garantirmos maior e melhor transitabilidade aos munícipes. Para além disso, também temos um outro programa de colocação de pavês em certas ruas da vila acompanhada da reabilitação dos passeios e valas de drenagens. Este processo está sendo feito com fundos de estradas disponibilizados pelo Estado, tendo na primeira fase sido disponibilizados 2.400 mil meticais, enquanto o segundo, orçado em 2.500 mil meticais, é proveniente do programa P13. Para o ano em curso, o fundo de estradas disponível é de três milhões de meticais que será utilizado para dar seguimento ao projecto de colocação de pavês de modo a abrangermos a maior parte das ruas dos bairros de cimento, numa extensão de 2,5 quilómetros. Também vamos juntar esta acção a uma possibilidade, para que cada residente da zona de cimento possa pintar a sua casa, pelo que vamos isentar as taxas durante o período que vigorar esta medida.
N- Quer dizer que teremos toda a vila com ruas pavimentadas?
PR- Esta é a nossa intenção. Estamos a fazer um programa de três anos. E não só, também com o apoio da Direcção Provincial das Obras Públicas, através da ANE, no sentido de alcatroar a via principal da entrada da vila até à Praça dos Trabalhadores, numa extensão de sete quilómetros. Nós queríamos colocar também pavês mas impediram-nos porque se trata de uma estrada classificada tendo, por isso, havido esta intervenção por parte da ANE. Para se concretizar esta acção, já foi lançado o respectivo concurso público.
N- Qual é a situação de abastecimento de água nesta autarquia?
PR- Não há crise, apesar de que esta situação não foi totalmente ultrapassada pois a falta de água acompanha o desenvolvimento urbano. Quer dizer, à medida que a vila vai crescendo também as necessidades vão crescendo. Se dizemos que não há crise tomamos como exemplo a situação anterior e o que neste momento se verifica. Agora já não ouvimos reclamações nos bairros sobre a falta de água e, por isso, entendemos que conseguimos minimizar o problema sendo que a aposta é melhorar cada vez mais os níveis de abastecimento. Juntando as 15 novas bombas a serem montadas com as outras quatro a serem reabilitadas e, ainda, mais as anteriores teremos a situação controlada.
CULTURA DESPERTA
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
N- Qual é o aproveitamento que está sendo dado ao Centro Cultural?
PR- Efectivamente existe um Centro Cultural que neste momento está sendo aproveitado apenas para os ensaios dos grupos culturais. São 17 grupos provenientes de vários bairros e escolas da nossa vila. Além disso, todos os sábados realizam a prospecção de talentos a nível local. Praticamente podemos dizer que é um centro cultural entregue às actividades dos jovens residentes na nossa autarquia, estando também um jovem a responsabilizar-se pelos trabalhos.
N- Qual é o futuro do centro?
PR- Bem, gostaríamos que o centro fizesse mais do que está a fazer agora. Que houvesse um aproveitamento mais amplo como, por exemplo, a projecção de filmes. O nosso receio reside no facto de exibirmos um filme que não vá ao encontro dos anseios dos jovens.
N- …quer dizer que deve ser um centro de promoção educacional e de busca de valores?
PR- Sim. É esse o nosso objectivo. Cultivar a educação moral e transformar o local num verdadeiro centro de promoção do civismo e de valorização da nossa identidade cultural.
Vila de Marromeu (F.Vicente)
RUÍNAS: UM MAL A ELIMINAR
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
N- Ainda há muitas ruínas aqui na vila. Há algum projecto visando acabar com esta situação, uma vez que estamos a caminhar para um desenvolvimento acentuado nesta autarquia?
PR- Há muitas ruínas aqui. O que acontece é que algumas ruínas são propriedades de certos munícipes que compraram a terceiros ou, então, pagavam rendas e acabaram por ficar com as propriedades. O facto de estes cidadãos não estarem a usar as infra-estruturas para os objectivos pelos quais adquiriram estes imóveis, faz com que a nossa vila tenha muitas casas fechadas ou em estado de abandono concorrendo para um aspecto negativo para a nossa vila. Por exemplo, as casas que pertenciam à APIE, temos esperanças de que a situação vai mudar como o que vai acontecer com o edifício onde funcionavam os Correios de Moçambique, que em breve será transformado num banco.
N- E os que não pertenciam à APIE?
N- Bem, neste momento não sabemos quais as intenções dos seus proprietários mas com o tempo terão solução. Ou eles fazem o aproveitamento devido das suas propriedades ou vendem ou, ainda, teremos que intervir para acabarmos com este tipo de situações através de uma solução pacífica.
N- A vila já possui energia da rede nacional. Acabaram os problemas?
PR- É verdade que temos energia da rede nacional e isso trouxe-nos um outro problema maior do que na altura que não tínhamos energia da rede nacional. Repare que presentemente há muitos pedidos para novas ligações. As informações que temos indicam que já há trabalhos no sentido de se montarem dois Postos de Transformação (PT) para fornecimento de energia aos bairros da CEP, Ndjerua e 7 de Abril. O problema é que as pessoas muitas vezes não sabem esperar por sua vez só porque já existe energia da rede nacional. Há muita ansiedade do tipo o meu vizinho já tem e eu por que é não tenho sem, no entanto, analisarem que a extensão de energia além de acarretar custos também obedece a um programa.
QUAL É O VERDADEIRO PROBLEMA?
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
N- Sabemos que quando há desenvolvimento também deve haver urbanização. Qual a situação da vila de Marromeu?
PR- Urbanização é, de facto, um problema. O número de habitantes que tínhamos há 10 anos atrás triplicou. Agora estamos a falar em 39 mil habitantes contra os cerca de 17 mil. Estes números, como se pode depreender, criam situações graves para o município em termos de urbanização. A explosão demográfica é maior.
N- Qual é a saída?
PR- Ora, não estamos parados perante esta realidade. O que estamos a fazer é encontrar áreas de expansão. Já temos no bairro Kenneth Kaunda cujos contactos com o Meio Ambiente já foram feitos de modo a realizarem o Plano de Estrutura. Dizemos isto porque a vila está praticamente rodeada de cana sendo, portanto, necessário encontrar outros terrenos para podermos crescer como município. Queremos ver se através da Direcção Nacional de Geografia e Cadastro (DINAGECA) podemos negociar algumas áreas com a Companhia de Sena de modo a que sejamos cedidos para novos talhões. Só que, infelizmente, estas pretensões acabaram se diluindo porque fora dos canaviais são áreas das coutadas o que complica ainda mais a situação.
N- Então, o município ficará no mesmo sítio? Não vai crescer?
PR- Não estamos estáticos. Estamos a crescer só que no sentido Marromeu/Beira, ou seja, ao longo da estrada de acesso à vila partindo do bairro Kenneth Kaunda em diante. Vamos alargar o espaço de urbanização nem que seja para chegarmos até à primeira ponte antes da entrada para a vila. Acreditamos que este plano poderá concretizar-se atendendo que a rede eléctrica também está em expansão e, segundo soubemos, a perspectiva é de chegar até ao posto administrativo de Chupanga. Atendendo a esta perspectiva de energia eléctrica, achamos que a nossa progressão será bem-vinda.
Zona comercial de Marromeu (F.Vicente)
AUMENTAR MERCADOS
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
N- Qual é a situação dos mercados, se se atender que o número de munícipes aumentou nos últimos anos?
PR- Efectivamente o número de mercados é reduzido havendo, por isso, a necessidade de se aumentar. Actualmente temos apenas três mercados, nomeadamente nos bairros 1º de Maio, 7 de Abril e último que acaba de ser construído no bairro Kenneth Kaunda. O que acontece agora é que as pessoas preferem o maior o que está na vila devido as vantagens comerciais. Lá existem dois blocos e como existe um espaço pensamos em projectar a construção de um terceiro naquele local de modo a que aumentemos a capacidade de bancas.
N- O que está acontecer com a área de diversões? Agora só restam barracas nos mercados…
PR- Sim, realmente tínhamos muitas casas de diversões, sobretudo nocturnas mas acabaram se retirando. Tínhamos o Sabiro, o Papajo’s, Bils, entre outros mas todos seus proprietários ou exploradores abandonaram para outros locais. Acho que tudo se deve ao rendimento, pois não há quem faça negócio sem rendimento. O que acontece agora é que os novos exploradores destas casas estão a exercer outras actividades que não sejam de diversão.
N-Quais são os desafios do município?
PR- Há muita coisa que gostaríamos de fazer como, por exemplo, na área de infra-estruturas. Quando vamos num encontro popular somos sempre confrontados com problemas de infra-estruturas e o caso do hospital rural tem sido o mais badalado, uma vez que tornou-se pequeno para o número de habitantes que temos. Então, torna-se imperioso descongestionar este hospital mas a falta de fundos constitui um grande “’calcanhar de Aquiles’’ neste aspecto. Outro aspecto tem a ver com escolas. Temos muitas salas anexas num bairro enquanto a escola-mãe está num outro bairro, então temos que encontrar uma forma para inverter esta situação. Por exemplo, temos uma sala anexa no bairro 1º de Maio enquanto a própria escola está no bairro Joaquim Chissano. A pergunta que se pode fazer é: será que o seu director possui, de facto, atenção para os dois bairros?
N- Como vão “descalçar esta bota”?
PR- Não temos como fazer, porque para se construir uma escola há que obedecer alguns requisitos como o da densidade populacional, o rácio escola/população e outros aspectos técnicos. Mas, apesar disso, estamos certos de que esta situação será ultrapassada no âmbito da colaboração que o município tem com a Direcção Distrital de Educação bem como com o Governo distrital.
HOSPITAL JÁ TEM MORGUE
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Novembro de 2010:: Notícias
N - Sabe-se que os municípios também possuem uma parte do seu apoio sanitário. Qual é o caso de Marromeu?
PR- Nós apoiamos a construção da morgue do hospital rural com capacidade para três corpos e sentimo-nos satisfeitos por termos contribuído para a resolução de um problema que afectava os munícipes e não só. Sempre que temos possibilidades de apoiar esta área fazemo-lo porque sabemos que o nosso município está em crescimento e, certamente, temos que ocuparmo-nos também desta grande área social. Foram mais de 800 mil meticais que desembolsamos com ajuda financeira do P13 para esta acção bastante útil para a população, uma vez que este hospital rural tem sido de referência para algumas zonas da província da Zambézia.
Temos muitos projectos neste âmbito e já em execução e outros que deverão ser feitos ao longo do quinquénio. Aliás, como já disse, nestas áreas sociais temos que ter maior envolvimento tendo em vista a satisfação dos munícipes como é também o caso da extensão da rede de abastecimento de água, a que me referi anteriormente.
N - No tocante à limpeza também temos visto dois tractores…
PR - Sim. Temos dois tractores que pensamos que estão a remover uma quantidade suficiente para deixar o nosso município minimamente limpo. Também contamos com 30 senhoras no âmbito do Benefício Social pelo Trabalho implementado pelo Instituto Nacional de Segurança Social.
O trabalho que o tractor e as senhoras têm vindo a desenvolver no âmbito da limpeza ainda não é suficiente mas já nos leva a pensar em outras perspectivas como é o caso de aquisição de mais meios mas, como se sabe, as receitas não são suficientes para isso pelo que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que a vila se mantenha limpa.
Outro aspecto: os munícipes também devem colaborar para que a vila esteja limpa pois à medida que o tempo vai passando, aliás, como já me referi anteriormente, o território também vai crescendo e as necessidades de limpeza também. Assim sendo, apelamos que os nossos autarcas tenham o espírito de que a vila é de todos e o seu melhor desenvolvimento carece do envolvimento de todos, desde o governo municipal até ao simples residente.
Se cada um dos residentes efectuar condignamente a limpeza certamente que estará a contribuir para a limpeza não só da sua casa mas, sobretudo isso, para uma boa apresentação da vila.
António Janeiro
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