quarta-feira, 3 de abril de 2013

Complexo de Marromeu: Devastação e conflito

MILHARES de animais, nomeadamente búfalos, elefantes, pivas/inhacosos, gondongas/vacas do mato, chango, facoceros, zebras, porcos do mato, hipopótamos, pala-palas, crocodilos e diferentes espécies de cabritos do mato vivem hoje o medo permanente dentro do Complexo de Marromeu, sobretudo na Reserva a eles destinado.

Tudo isso porque o homem, não só destrói o ecossistema como, também, invade vastas áreas construindo suas habitações e produzindo comida para o seu sustento. E mais: pratica a caça furtiva o que coloca ainda mais os animais em perigo permanente.

Face a esta situação, actualmente o conflito homem/fauna bravia é evidente tendo já resultado em morte de 22 pessoas o ano passado e outras 12 no decurso deste ano. A devastação, essa, continua a destruir o habitat dos animais com capim, árvores e outros recursos a constituírem alvo dos habitantes tanto das zonas limítrofes do Complexo como os que vivem no seu interior.

A Reserva Especial de Marromeu foi criada através do Diploma Legislativo nº 1982 de 08 de Junho de 1960, com a finalidade de proteger a maior população de búfalos a nível do mundo. Ocupa uma área de 1500 quilómetros quadrados, localizando-se na província de Sofala concretamente no Distrito de Marromeu sendo limitada a Norte, pela Coutada Oficial nº 14; Sul, pelo Oceano Indico; Oeste, pela Coutada Oficial nº 10 e 11 e Leste, pelo rio Zambeze. Ocupa a parte mais baixa e pantanosa e é circundada pelas coutadas oficiais nº 10, 11, 12 e 14, dai que a região é habitualmente designada por Complexo de Marromeu. A reserva funciona como uma área de reprodução das espécies que sazonalmente imigram para as coutadas situadas nas terras mais altas do complexo de Marromeu.

Com um potencial faunístico muito vasto, o Complexo de Marromeu possui diversos mosaicos de comunidades vegetais que incluem floresta baixa com lagos, matas de miombo, graminal húmido e floresta pantanosa, ribeirinha, savana e mata de acácia, savana de palmeiras, graminal inundado permanentemente, ou sazonalmente, pântanos de papyrus e caniço, lagoas, floresta de mangais (a mais extensa de Moçambique), mata de dunas e praias.

Estas Comunidades vegetais sustentam, uma fauna diversificada e abundante, incluindo búfalos, elefantes, inhacosos, gondongas, pala-palas, hipopótamos, changos e outras espécies.

O Complexo de Marromeu suporta as maiores concentrações de aves aquáticas em Moçambique, e algumas espécies são migratórias como é o caso de flamingos.

Também é habitat para 120 pares reprodutivos de grou-carunculado, e ainda fornece um refúgio crítico para mais de 30 porcento da sua população global durante o período da seca extrema na África Austral. Mangais e estuários extensos sustentam a pesca do camarão, na região conhecida por banco de Sofala.

O Complexo de Marromeu, devido ao seu rico potencial, o Governo de Moçambique deu um passo possessivo em proclamar ou declara-lo através da Resolução nr.45/2003 de 5 de Novembro, que é a parte do Delta do Zambeze como a primeira Terra Húmida em Moçambique mediante a inscrição na Convenção de Ramsar, o acordo internacional sobre a importância e o uso sustentável das terras húmidas no Mundo.

• António Janeiro

Foto: Fernando Raposo

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